Resumo
A água potável é um fator
crucial para a saúde pública e o desenvolvimento socioeconômico. No Brasil,
apesar dos avanços na cobertura de abastecimento, persistem desafios
significativos na garantia da potabilidade da água distribuída, especialmente
em áreas rurais e menos desenvolvidas. Este artigo científico visa analisar a
situação atual da qualidade da água para consumo humano no país, identificando
os principais riscos à saúde e apresentando estatísticas relevantes sobre o
acesso e o monitoramento. Os dados apontam para a contaminação microbiológica
(principalmente por E. coli e Coliformes Totais) e falhas no tratamento
e distribuição como fatores de risco, correlacionados à alta incidência de
Doenças de Transmissão Hídrica (DTH). A universalização do saneamento básico,
que inclui o acesso à água segura e à coleta e tratamento de esgoto, é
imperativa para mitigar estes riscos e reduzir as inequidades regionais.
Palavras-chave:
Qualidade da Água; Potabilidade; Saneamento Básico; Risco à Saúde; Doenças de
Transmissão Hídrica; Brasil.
1. Introdução
O acesso à água potável e segura
é um direito humano fundamental e um dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS 6.1) da Organização das Nações Unidas (ONU), visando o acesso
universal e equitativo até 2030. No Brasil, a vigilância e o controle da
qualidade da água são regulamentados por legislação específica (atualmente
Portaria GM/MS nº 888/2021), que estabelece o padrão de potabilidade e as
responsabilidades dos fornecedores e autoridades de saúde.
No entanto, a garantia da
qualidade da água é um processo complexo que envolve a proteção dos mananciais,
o tratamento adequado e a manutenção da integridade do sistema de distribuição.
A falta de saneamento básico, com a ausência de coleta e tratamento de esgoto
para mais de 100 milhões de brasileiros (Fonte: Instituto Trata Brasil), é o
principal vetor de contaminação dos recursos hídricos, comprometendo a
qualidade da água bruta e exigindo maiores investimentos no tratamento.
Este estudo busca apresentar um
panorama sobre a qualidade da água potável no Brasil, focando nos riscos
associados, e nas estatísticas que revelam as disparidades de acesso e as
deficiências no monitoramento.
2. Riscos à Saúde e Principais
Contaminantes
A água de má qualidade
representa um risco imediato e grave para a saúde pública, sendo o principal
veículo de Doenças de Transmissão Hídrica (DTH).
2.1. Contaminação Microbiológica
Os indicadores mais críticos de
contaminação da água no Brasil são os microrganismos patogênicos,
frequentemente identificados pela presença de Coliformes Totais e, sobretudo, Escherichia
coli (E. coli), que indicam contaminação fecal.
- Riscos: As DTHs como
diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A, giardíase e criptosporidíase
são diretamente relacionadas ao consumo de água contaminada. Estatísticas
de estudos de vigilância apontam que amostras de água fora do padrão de
potabilidade por presença de E. coli e Coliformes Totais ocorrem em
diferentes regiões, com maior incidência em Soluções Alternativas
Coletivas e Individuais de Abastecimento (SAC/SAI) e em áreas rurais.
- Estatísticas (Exemplo de dados regionais): Pesquisas
em regiões rurais do país, por exemplo, revelaram percentuais de amostras
fora do padrão de potabilidade variando de 4,31% a 100% para Coliformes
Totais e de 2,8% a 33,3% para E. coli em anos recentes,
evidenciando a persistência do problema (Fonte: Diagnóstico da Qualidade
da Água para Consumo Humano – Abrhidro/Vigilância Sanitária).
2.2. Contaminantes Químicos e
Físicos
Embora a contaminação
microbiológica seja a mais urgente, a presença de contaminantes químicos também
representa um risco crônico à saúde:
- Turbidez e Cor:
Níveis elevados podem indicar falhas no tratamento e proteger
microrganismos, além de serem indicadores de material orgânico e
inorgânico.
- Subprodutos da Desinfecção: O
uso de Cloro Residual Livre (CRL) é obrigatório para manter a segurança da
água na rede. Contudo, em concentrações inadequadas (baixas demais,
permitindo o crescimento microbiano; ou altas demais, com VMP de 5,0
mg/L), ou a reação do cloro com matéria orgânica, pode gerar subprodutos
potencialmente carcinogênicos.
3. Estatísticas de Acesso e
Cobertura
A qualidade da água está
intrinsecamente ligada ao acesso e à cobertura dos serviços de saneamento. A
persistência de milhões de brasileiros sem acesso à rede geral de água reflete
uma profunda desigualdade.
- Acesso à Água Potável:
Cerca de 33 milhões de brasileiros vivem sem acesso à água potável
(dados do Instituto Trata Brasil).
- Desigualdade Regional: A
cobertura de abastecimento de água tratada é notoriamente desigual. A
região Nordeste é historicamente a que mais sofre com a ausência de
saneamento básico, afetando desproporcionalmente a população de menor
renda.
- Vigilância da Qualidade (SISAGUA): O
Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo
Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, monitora os dados de
potabilidade. Os relatórios evidenciam que, mesmo onde há rede de
abastecimento, a qualidade da água pode estar comprometida em diversas
etapas, especialmente nas áreas com menor investimento em infraestrutura.
4. Conclusão
A análise da qualidade da água
potável no Brasil revela um cenário de contrastes. Embora grandes centros
urbanos demonstrem níveis elevados de cobertura e tratamento, as falhas na
potabilidade e o acesso precário persistem para milhões de pessoas, particularmente
nas áreas rurais e nas periferias urbanas.

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